2. Vermelho de vergonha
Mark Rothko (* Dvinski, Lituânia, 1903 - †
25/2/1970, Nova Iorque)
A peça Vermelho*, de John Logan, trata da
vida e obra do pintor Marcus Rothkovitch, cujos “campos de cor”
caracterizavam uma das vertentes do expressionismo abstrato,
tendência pictórica que ditava moda pela década de cinquenta nos Estados
Unidos com os pincéis de Robert Motherwell (*Aberdeen, WA, 1915 - †
Provincetown, MA, 1991)
Robert Motherwell, Elegy to the Spanish Republic no. 134
e Jackson Pollock (*Cody, WY,
1912 - †Springs, Long Island, NY, 1956)
Jackson Pollock, Number I A, 1948
Pois bem. Em
certa altura da peça, do alto de seu ego inflado e inflamado,
narcisisticamente a contemplar o escarlate que cobre toda a tela, Rotko
berra:
--- E vermelho! E vermelho! E vermelho! Eu não sei
o que isso quer dizer! O que quer dizer “vermelho” para mim?
Desse breve trecho da peça saí
plenamente edificado quanto ao sentido da pintura de Rothko, quanto à
profundidade inefável de suas cores.
Mark Rothko Untitled (Seagram mural sketch), 1959
É vermelho de vergonha por esta minha
insensibilidade cartesianamente pétrea, que ouso formular o seguinte
silogismo:
a) levando em conta que, na pintura de Rothko, os
tais “campos de cor” seriam a livre expressão de sua emoção pessoal; b)
considerando que ele não sabe o que lhe diz o vermelho --- c) a que
lógica conclusão somos levados?
Se não peca a frieza insensível de meu raciocínio,
--- à de que ele não sabe o que deseja expressar.
Ademais, meus caros e minhas caras,
vamos e venhamos, passeando por esses “campos de cor” de Mark Rothko: se
todos gostassem do vermelho, o que seria do amarelo?
Mark Rothko, Untitled, 1951-55
A propósito, deem um título, traduzam lá o que lhes
diz esse “campo de cor”. Almas compreensivas, ajudem o artista (mas sem
esse sorriso amarelo).
Talvez Rothko, a exemplo do vermelho, também não
saiba o que “amarelo”
Mark Rothko, Número 10, 1950, MOMA
e “azul” e “branco” queiram dizer para ele...
________________________
* Peça estreada em São Paulo no Teatro Geo, em
30/3/2012, com Antonio Fagundes e Bruno Fagundes, sob a direção de Jorge
Takla.
|